quarta-feira, 24 de março de 2010

10 passos para uma vida mais saudável

Numa época em que tudo ao redor parece complicado, a busca por uma vida simples e saudável parece sonho. Administrar o trabalho e os relacionamentos tornou-se uma tarefa difícil, incessante. Chegamos a ter saudades do tempo em que não havia computador, TV a cabo e telefone celular. Viramos escravos das novidades, dos últimos modelos, das versões atualizadas, dos upgrades, da informação em tempo real... Um fio que se parte é suficiente para provocar o caos: nos sentimos desconectados do mundo, em algum buraco negro da civilização.




Uma passagem atribuída a um personagem lendário do sufismo, Muslah Nasrudim - aquele que sempre aparece em anedotas e contos de humor e fina ironia -, ilustra bem a necessidade de resgate das coisas que realmente importam na vida. O astuto Nasrudim transportava em um barco um homem famoso por sua erudição. Ele pergunta a Nasrudim se havia aprendido gramática, ao que esse responde que não. O erudito afirma, então, que, com isso, Nasrudim perdeu metade da sua vida. O herói, por sua vez, pergunta ao erudito se aprendeu a nadar e este diz que não. "Então, o senhor perdeu toda sua vida", diz Nasrudim, "pois estamos afundando." Esse relato mostra o que acontece quando se dá prioridade ao que é desnecessário - quem precisa de um barqueiro que conhece gramática? - e se colocam em plano secundário as coisas mais simples da vida - como aprender a nadar.



Um bom começo é nos livrarmos de tudo o que é supérfluo. Temos de aprender a doar livros, roupas e badulaques que sobram nas gavetas e nos armários. É possível também aliviar a carga nas responsabilidades diárias, no excesso de compromissos e de atividades. E consumir com mais critério, sabedoria, evitando produtos que aumentem a poluição em nosso organismo ou no meio ambiente. Com uma dieta saudável, sem usar a comida para compensar ansiedade ou frustrações, corpo e alma tendem à harmonia, nos poupando tempo, energia (e um bom dinheiro) com médicos, analistas e remédios. É certo e líquido.



Você vai ver, a seguir, 10 sugestões para tornar a vida muito mais leve e plena. Claro, não é uma lista completa - ficou de fora " aprenda a nadar" , por exemplo -, nem professa que pode mudar sua vida ou salvar o mundo. Isso só você pode fazer.



1. Conheça a si mesmo

Um dos ensinamentos do Budismo diz que a ignorância é a causa de todos os problemas e sofrimentos, mas que a ignorância sobre si mesmo é a maior de todas as ignorâncias. Sábias palavras: envolvidos em obrigações e compromissos, não temos tempo para olhar para dentro de nós. Vivemos ligados nos aspectos concretos da sobrevivência - as contas para pagar, os telefonemas a fazer, a lista de compras etc. - apenas com uma vaga percepção de nossos processos internos. Então, desempenhamos os diferentes papéis - filho, pai, esposa, namorado, amante, funcionária, chefe - seguindo um "roteiro" imposto pelos outros, sem levar em conta as nossas necessidades. Uma tremenda complicação. "Somos condicionados por regras, crenças e ideologias herdadas ou adquiridas no dia-a-dia. Sem procurar o autoconhecimento, vivemos ligados no piloto automático", diz Ken O'Donnell, diretor para a América do Sul da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris e autor de livros sobre emoções e espiritualidade. "Momentos de introspecção são fundamentais para avaliarmos se estamos no caminho certo."



A meditação é a mais conhecida ferramenta para "olhar para dentro". Meditar, em princípio, não significa sentar em posição de lótus, acender incenso e ouvir música new age. Isso pode valer quase nada se o praticante não tomar consciência de seus processos internos, tanto físicos, quanto mentais ou emocionais.



Há uma parábola que compara nosso mundo interior a uma casa, onde tudo está em bagunça. Coisas fora do lugar, horários malucos, os cães com fome, o jardim em abandono. Durante a meditação, temos a oportunidade de chegar nessa casa de repente - quase sempre para encontrar o mordomo ou qualquer outro no comando. Se a intenção é reassumir e manter a nossa liderança na casa, precisamos fazer essas visitas-surpresa com regularidade.



"A meditação pode ser simplesmente uma reflexão mais profunda e organizada", explica Ken O'Donnell. Algumas técnicas estão ligadas a religiões, filosofias ou artes marciais. Outras misturam várias linhas. É possível fazer um curso de meditação ou mesmo tentar sozinho, com o auxílio de um bom livro.



Falta de tempo não é desculpa: o pensador russo George Ivanovitch Gurdjieff (1872-1949) ou o líder espiritual indiano Mohan Chandra Rajneesh, o Osho (1931-1990), sugerem a "meditação em movimento" (confira também as idéias do poeta e mestre zen vietnamita Thich Nhat Hanh, a partir da página 64).



É possível meditar em pé, fazendo caminhadas, cuidando das plantas, durante uma reunião de trabalho, dirigindo ou em meio ao burburinho de uma feira. É impossível controlarmos a vida à nossa volta, mas podemos controlar a nossa vida.



2. Pratique o bem

Gestos de generosidade, fraternidade e preocupação com o próximo, com os animais ou o meio ambiente têm o poder de nos fazer sentir inspirados, felizes e de bem com a vida. "Praticar o bem é instintivo no ser humano e as religiões se apropriaram dessa idéia, prometendo aos bons o reino dos céus", explica Denise Gimenez, professora de Ciências da Religião do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. "Quem faz caridade se sente ainda mais gratificado do que quem recebe." A qualidade de nossos atos e palavras é capaz de influenciar nossa vida, segundo a relação de causa e efeito. Toda e qualquer ação ecoa pelo universo, o que nas tradições ocultas chama-se "lei da ressonância". E não é apenas se doar para os outros. É preciso também procurar o bem para nós mesmos. E essa felicidade pode estar nas atividades simples e corriqueiras.



Há sinais muito claros de que a ficha da generosidade está caindo. Grandes e pequenas empresas de todo o mundo já abandonaram a idéia paternalista da filantropia para se envolver de verdade com as comunidades, com as organizações não-governamentais e com os projetos que incluem benefícios sociais. Em nível individual, essa atitude conta pontos para as nossas carreiras, ainda que não seja essa a intenção primeira do nosso gesto.



3. Aproxime-se da natureza

"Nada é pior do que as leis que regem a vida nas cidades", disse recentemente o artista plástico polonês Frans Krajcberg. "Vivemos em bunkers e se queremos saber o que está acontecendo, ligamos a televisão." Você deve ter ouvido falar de Krajcberg: ele cria esculturas com troncos carbonizados e mora no sul da Bahia como Tarzan, numa casa em cima de uma árvore. Mas nem precisa tanto: basta entrar em contato com a natureza, às vezes numa breve caminhada, para experimentar a calma, a lembrança de o quanto a vida pode ser simples e descomplicada. Os xamãs, sábios curandeiros presentes em todas as culturas desde a pré-história, consideram a natureza um santuário e ensinam a respeito da importância dos momentos de solidão na selva - também serve a mata do parque perto da sua casa. O ideal é, ao menos uma vez por mês, viajar para o campo ou para a praia, tomar banhos de mar ou cachoeira, percorrer trilhas, acampar, pescar, quem sabe até ousar nos esportes radicais, como mergulho, rafting, rapel ou vôo livre.



Cyro Leão, terapeuta floral e corporal, professor da escola de xamanismo Paz Geia, em São Paulo, lembra que leitos de riachos são fonte de saúde e paz de espírito. "As pedrinhas estimulam os meridianos dos pés, linhas de energia que correspondem a todos os órgãos do corpo." Basta andar descalço na terra, na areia ou na grama para equilibrarmos em nosso corpo as cargas de eletricidade e de outras energias invisíveis. Ou seja, até uma caminhada no jardim de casa pode fazer uma grande diferença.



4. Livre-se do supérfluo

Imelda Marcos, ex-primeira dama das Filipinas, orgulhava-se de possuir 3 000 pares de sapatos (não é difícil imaginar por que seu marido, o ditador Ferdinand Marcos, foi deposto e banido pelo povo). Mesmo sem esse exagero, muitas vezes damos mau exemplo vivendo cercados de roupas, livros, discos, papéis, quinquilharias que não nos servem mais. A mesma coisa nas finanças: precisamos realmente de três cartões de crédito? Contas em vários bancos? Para os chineses, objetos sem uso, quebrados ou amontoados, geram estagnação de energia, com efeitos negativos sobre a saúde, o trabalho ou os relacionamentos dos moradores da casa. Esse é um dos principais ensinamentos do feng shui, mistura de ciência e arte praticada há 6 000 anos, que ensina a adequar as forças da natureza nos diversos ambientes para conseguir harmonia e daí bem-estar. A solução chinesa é simples: doe ou jogue fora tudo o que não tenha mais finalidade ou uso. "Não é preciso pôr no lixo fôrmas de bolo que são pouco usadas, mas é bastante recomendável doar o vestido de noiva da sua avó", explica o consultor de feng shui Eduardo Svetlosak, de São Paulo.



Quando nos cercamos de coisas inúteis, não desperdiçamos apenas espaço no ambiente, mas também dentro de nós. Livres das coisas velhas, damos chance para que o novo entre em nossa vida. Na própria lida de uma boa faxina, em geral procedemos também a um esvaziamento da mente, eliminando memórias e apegos que não nos servem mais.



5. Desacelere

Sua vida nada mais é que pular de uma atividade a outra? Ir de casa para o trabalho, dali para a escola e, no meio tempo, academia, curso de inglês e computação? Você vive enrolado em compromissos, telefonemas, e-mails, reuniões? Então, está mais do que na hora de puxar o freio de mão. Tente parar um momento e refletir se é possível aliviar essa sobrecarga. A dica de ouro é separar o que é importante do que é urgente. A clareza de propósitos leva a decisões acertadas, economiza tempo, energia e recursos. "A vida é o reflexo do nosso mundo interior", afirma Ken O'Donnell, da Universidade Espiritual Brahma Kumaris. "Quanto mais nossa cabeça estiver confusa e ocupada com pensamentos inúteis, mais complicado será o nosso dia-a-dia."



O especialista sugere que nos desconectemos do turbilhão várias vezes por dia, fazendo pausas de duas em duas horas, durante não mais do que 30 segundos. Nesses momentos, convém prestar atenção na respiração, que deve ser tranqüila e profunda. Observar o tráfego de pensamentos, em vez de ingenuamente se deixar levar por eles, é um grande progresso. Outro truque é, logo de manhã, antes de mergulhar na roda-vida das obrigações, ponderar sobre as reais necessidades e prioridades do dia. E à noite, na hora de dormir, reservar novamente um tempinho para um balanço final.



No livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, o escritor Stephen Covey produz uma pérola: "É melhor ter uma bússola do que um relógio". É isso. Os momentos de introspecção ajudam a resgatar a bússola.



6. Consuma com consciência

"Menos é mais." A máxima é atribuída ao arquiteto e designer holandês Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), um gênio dos projetos minimalistas. Muitas pessoas, inclusive aquelas para as quais dinheiro não é problema, estão descobrindo que consumir não necessariamente traz felicidade. E que qualidade, tanto quanto responsabilidade, deve estar sempre na frente da quantidade. Segundo o Fundo Populacional das Organizações das Nações Unidas (UNFPA), uma criança nascida em um país industrializado, onde os níveis de consumo são altíssimos, colabora para o desperdício e poluição ambiental o mesmo que 30 a 50 crianças nascidas nos países em desenvolvimento. Comprar com discernimento, portanto, não significa reprimir desejos, mas nos reorientarmos em direção a novos valores, tendo em mente o impacto ambiental e social que produzimos através da cultura do excesso.



Uma ONG que promove o consumo consciente, o Instituto Akatu, de São Paulo, acredita que o consumidor pode transformar o mundo ao evitar desperdício de comida, de água e de papel. Segundo dados do Akatu, se um milhão de pessoas usarem a frente e o verso do papel para escrever, a cada mês seriam preservadas árvores suficientes para cobrir 18 campos de futebol. A preocupação vale para a água, um bem natural que tende a se tornar raro nas próximas décadas. Se um milhão de pessoas reduzissem seu banho de 12 para 6 minutos, seriam economizados mensalmente 1,62 milhão de metros cúbicos de água, o suficiente para abastecer 432 mil pessoas por dia. E os gastos com energia diminuiriam o equivalente a uma usina de 700 megawatts - como a de Angra I, em Angra dos Reis, RJ. Enfim, se as "contas para pagar" são o inferno da sua vida, reduzi-las é um passo crucial rumo à simplicidade e ao bem-estar.



7. Cultive a auto-suficiência

Ser auto-suficiente não significa apenas conquistar independência financeira e pagar sozinho as contas e o aluguel, mas principalmente contar com as próprias reservas internas para enfrentar os desafios rotineiros. "Quanto mais contamos com os outros, maior o risco de frustração", afirma a psicoterapeuta junguiana Lúcia Rosenberg, de São Paulo. Precisamos também fortalecer a auto-estima, evitando nos tornarmos dependentes da aceitação das pessoas. "Quem busca aprovação em tudo o que faz perde a autoconfiança", diz Lúcia. "É preciso contar com a certeza de estar fazendo o melhor, caso contrário corremos o risco de virar um eterno carente." Uma forma de dependência comum é depositar as chances de ser feliz nas mãos dos outros: namorado(a), marido, mulher ou filhos. Baixar os níveis de expectativa sobre o comportamento das outras pessoas e tentar se concentrar nas próprias possibilidades é a chave para aprender a ser auto-suficiente. Não há escolha: somos os únicos responsáveis por nossa felicidade.



8. Coma com sabedoria

Os rabinos judeus há séculos atribuem à comida um significado cósmico e adotam o conceito do leve/pesado em vez do gordo/magro. Para eles, não é improvável que uma pessoa obesa seja "pesada" em vários sentidos e não só na balança. "A dieta não serve para ficar mais magro, mas sim para ficar mais leve", afirma o rabino Nilton Bonder no livro A Dieta do Rabino - A Cabala da Comida. Na prática, comer com discernimento não significa abrir mão dos prazeres da boa mesa, mas usar o equilíbrio toda vez que fazemos o prato ou abrimos a geladeira. É ter consciência do que estamos querendo: matar a fome e a sede ou compensar frustrações e afogar mágoas? É bom também comer sem pressa, saboreando cada garfada. "Engolir" a comida aumenta a ansiedade e a tensão. Uma dieta saudável inclui frutas, verduras, legumes, sucos e cereais integrais. Moderação é recomendável quando se trata de doces, bebidas alcoólicas e carnes vermelhas, frituras, refrigerantes, salgadinhos e alimentos industrializados. Ao optar por produtos frescos, pode-se até abrir mão de equipamentos como freezer e forno de microondas: bastam o fogão e a geladeira, como antigamente.



9. Exercite a aceitação

"É que Narciso acha feio o que não é espelho"... O verso de Caetano Veloso em "Sampa" ajuda a compreender a dificuldade do ser humano de aceitar diferenças. Em geral, somos pouco afeitos a acatar opiniões e pontos de vista conflitantes com os nossos. Desperdiçamos energia julgando e recriminando as pessoas à nossa volta - e a nós mesmos - com base em opiniões já formadas. Esse julgamento é feito por meio da comparação: bom ou ruim, bonito ou feio, certo ou errado...



Para o Budismo a verdadeira compreensão está além da comparação e significa reconhecer a singularidade de cada coisa e cada pessoa. Aceitar os outros tal como são é a mais sublime e apaziguadora forma de respeito.



Aceitação inclui também ter jogo de cintura para enfrentar imprevistos sem desperdiçar energia. "Tentamos enquadrar os acontecimentos em um roteiro que só existe em nossa cabeça e nos consideramos aptos a lidar apenas com o que havíamos idealizado", explica a terapeuta junguiana Lúcia Rosenberg.



10. Ria bastante

Séculos antes de Cristo, na Grécia, os médicos atribuíam as diferenças de vitalidade entre os indivíduos aos "humores" do corpo - líquidos como sangue, bílis e linfa. Eles acreditavam, por exemplo, que uma pessoa mal-humorada tinha alguma disfunção no fígado, o que a deixava amarga como a própria secreção do órgão, a bílis. Todo mundo sabe que uma boa risada é antídoto milagroso para os males do corpo e do espírito. Mas para aliviar o peso que colocamos em nossas próprias costas, é preciso aprender a rir de nós mesmos, de nossos erros e bobagens. O mau humor é conseqüência da frustração que sentimos frente a exigências que impomos a nós mesmos ou que achamos que os outros esperam de nós. "Pessoas com o dom do humor têm a certeza secreta de que tudo é relativo, tanto as vitórias quanto os fracassos", escreveu num ensaio a indigenista colombiana Gladys Jimeno Santoyo.



O riso contribui para baixar os níveis de cortisol e adrenalina, hormônios que provocam aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial. Não é piada. "Quando agem no organismo por períodos prolongados, esses hormônios podem causar hipertensão e problemas cardíacos", explica Luiz Eugênio Mello, professor de Neurofisiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ou seja, quem ri não só vive melhor, como também vive mais.

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